Biografia

BIOGRAFIA: ANTONIA DA SILVA BENTO BARRIOS – TIA ANTONIA
Sou Tia Antonia, registrada por meu pai como Antonia da Silva Bento, mas batizada como Antonia dos Reis Bento, o sobrenome Barrios veio pelo casamento. Nasci no dia 16 de janeiro de 1953, na Fazenda São João, pertencente aos pais de minha mãe, próxima à Missão Caiuás, Aldeia indígena no Município de Dourados, MS. Meus pais, Ariovaldo Maria Bento e Aparecida da Silva Bento, vieram de São Paulo, região de São José do Rio Preto, acompanhando meus avós maternos, Antonio Mineiro e Joana Marques, meus padrinhos de Batismo. Quando nasci, meus pais já moravam nas suas primeiras terrinhas, onde até hoje está a fazenda Santa Maria, propriedade de nossa família, próxima ao Carumbé, um pequeno povoado, entre Itaporã e Maracaju.
Minha mãe até pouco tempo ainda nos contava da luta daquele tempo, do duro trabalho na roça, de cozinhar para os peões, lavar e passar as roupas deles para ganhar alguns trocados no final do mês. Nossa casa de pau a pique fazia minha mãe tremer e rezar muito também, quando ficava sozinha e anoitecia sem que meu pai voltasse do povoado. Passou muito medo ali… uma pequena mulher de um metro e meio, que muitas vezes via a noite chegando e temendo ficar sozinha, punha-me num saco, pendurava-o numa árvore, subia no cavalo e aí conseguia pegar-me nos braços e íamos para a casa de algum amigo ou parente que morava mais próximo esperar a volta de meu pai. Quando eu chorava à noite e ela estava só, fazia uma chupeta de açúcar amarrada num pano para eu chupar e ficar quieta, com medo dos lobos que rondavam a choupana onde estávamos as duas sozinhas. Isto explicaria talvez por que gosto tanto de doce…
Minha mãe teve mais três filhos: logo depois de mim, nasceu a Maria de Fátima, Fá, como a chamamos, esposa do Eusébio, e moram em Dourados, alguns anos depois nasceu a Catarina, falecida com oito meses de difteria e quando eu tinha quase sete anos nasceu o Alberto, com quem minha mãe mora e é cuidada pela Delcina, minha cunhada, ainda em Dourados. Meus pais se separaram quando eu tinha sete anos e meu pai teve, então, outros filhos. Ele faleceu há alguns anos, próximo a Dourados, em Itaporã ,onde foi o estimado prefeito da cidade por duas gestões.
Quando meus pais se separaram, saímos de Itaporã e fomos morar com nossos avós maternos em Dourados. Lá fiz a primeira comunhão e o curso primário,onde fui aluna da professora Pompéa Capilé, hoje ministra da Paróquia Auxiliadora, fiz o secundário e também o antigo curso Normal na Escola Imaculada Conceição. Tinha dezessete anos quando o concluí e já, em novembro de 1970, prestei concurso no Estado para lecionar, graças a uma autorização da Secretaria de Educação, uma vez que antes da posse eu teria os dezoito anos exigidos; fui aprovada em primeiro lugar naquele concurso e, coincidentemente, muitos anos depois, ao prestar concurso aqui no Município, já morando em Campo Grande também fui contemplada com o primeiro lugar na classificação. Já tinha concluído, em 1979, o Curso de Letras na antiga FUCMAT, hoje UCDB.
Chegando a Campo Grande em 1973, já concursada, a Secretaria de Educação ofereceu-me três opções de escola para dar aula e escolhi a que no tempo chamava-se Paulo VI, hoje Escola Estadual Rui Barbosa, onde trabalhei vinte e seis anos, até a aposentadoria. Esta escolha deu-se pelo fato de eu ter vindo de Dourados, acompanhando meu esposo, Estanislau Barrios, que servia na Base Aérea de Campo Grande, onde ficou oito anos e a escola escolhida era a mais próxima de nossa residência também. Ali trabalhei como alfabetizadora durante seis anos, depois com a conclusão da faculdade passei a ensinar Português, de quinta a oitava série e depois Português e Literatura Brasileira no antigo Curso Científico. Ao mesmo tempo ensinava Português em escolas municipais, como João Nepomuceno, Manoel Inácio e aposentei-me, afinal, na Escola Municipal João Evangelista.
Conheci meu esposo em Dourados, quando eu tinha catorze anos e ele dezoito. Logo nos separamos pela distância, mas sem rompimento do compromisso; eu fiquei em Dourados e ele em Campo Grande. Vivemos a graça de um tempo de namoro por carta, o telefone, naquele tempo, pedia-se ligação à telefonista da Agência Central de Telefonia da cidade e levava às vezes seis horas para conseguir completar, sem falar o preçodo minuto de conversa. Era caríssimo!Se chovesse, podia desistir… Nos aniversários a gente mandava telegrama e que emoção quando se ouvia gritar lá na frente de casa: CARTEIRO! E, se pagava caro, também, por cada palavra daquela mensagem! Quando o Estanislau podia também nos visitava, pois seus pais moravam lá.
Afinal, após seis anos de namoro, e namoro santo, nós nos casamos, com direito a véu e grinalda, na Matriz Imaculada Conceição de Dourados, no dia de Reis, na manhã do dia seis de Janeiro de 1973, às onze horas. E viemos morar em Campo Grande, no mesmo dia. Moramos no Jardim Petrópolis, depois Vila Eliane e agora, já há trinta anos no Bairro Santo Antonio. Temos três filhos: Estanislau Barrios Júnior, Virgínia Barrios e Letícia Barrios Kanomata. A nora, Renata Barrios, os netos Jonas, falecido em 2014, e Ana Luiza,uma linda adolescente; temos o genro Fábio Kanomata e os netos pequeninos ainda Maria Antônia e Lucas.
Nasci católica, recebi todos os sacramentos, mas até os trinta anos não era muito dedicada ao serviço na Igreja até que as crianças ficaram maiores e passando por uma dificuldade de saúde na família comecei a viver uma experiência pentecostal, no grupo da Renovação Carismática Católica na Paróquia Auxiliadora e de lá para cá não parei mais, fui ou sou catequista, coordenadora de grupo de oração, de Retiros, Mece, missionária, visitação de enfermos, serviço de capelania e tudo o mais que fosse preciso dentro e fora da Igreja.
Essa profunda experiência espiritual levou-me a uma séria vivência do Evangelho, a uma empenhada missionariedade e acompanhamento de pessoas e famílias, nas mais diferentes situações, a ser a igreja que chega aonde ainda não está chegando e que resultou num chamado. Junto com um grupo de irmãos e irmãs, o Senhor levou-nos a responder sim a este chamado, a experimentar a vida comunitária, a partilhando nossas vidas, nosso tempo, oferecendo as vezes o nosso cansaço e as nossas angústias para que outros pudessem descansar e repousar.
Nasceu, então, a Comunidade Católica Sagrada Família. Uma Comunidade de Aliança, da qual sou chamada fundadora. Tivemos para isto o acompanhamento e presença de um grande pai e amigo Padre Mário Panziera, que foi meu formador pessoal e também dos cofundadores que me acompanharam neste passo e continuam ao meu lado e digo que são, todos ele, o quarto filho que eu gostaria de ter tido. Acompanhou-nos a igreja toda, muitos irmãos leigos, seminaristas, sacerdotes,nossos bispos, amigos e colaboradores e principalmente os nossos assistidos, os idosos do Centro de Convivência, as crianças, adolescentes e as famílias do Núcleo de Apoio à Família,onde servimos. Construímos do “nada” a nossa sede. A providência Divina nos foi favorável…
Louvo a Deus que sempre nos carregou nos braços, com um zelo semelhante ao que teve minha mãe, tão pequena e magrinha, ao pôr-me naquele saco amarrado nos galhos de uma árvore para subir no cavalo e poder tomar aquele gordo bebê nos braços e me levar por onde ela fosse.
Assim é Deus com seu amor de pai, assim é Deus com seu amor de mãe!